Estamos no início de uma pandemia, causada pelo novo Coronavírus, que atinge 204 países, com mais de 1 milhão de casos confirmados e mais de 50 mil mortos. Mesmo assim, algumas agências de turismo já vendem pacotes para o 2° semestre de 2020, oferecendo descontos e outros benefícios aos clientes. Todos queremos viajar, ainda mais pagando barato. Mas, será que é hora de pensar na tão sonhada viagem?

Nesse artigo, explico porque ainda não é hora de planejar viagem ao exterior, mesmo que no segundo semestre.

1. Incerteza quanto à evolução da pandemia

Infelizmente, não sabemos ainda como será a evolução da epidemia nos diversos países, a despeito das simulações que tem sido feitas pelos institutos de pesquisa (cf. Imperial College London). No Brasil, a previsão do Ministério da Saúde é de que os casos de COVID-19 só devem ter uma queda brusca em setembro/2020.

Mas, seguindo a experiência de alguns países asiáticos, mesmo após o pico da epidemia, o fim do isolamento social não será pleno. Alternar-se-ão períodos de abertura e isolamento, para evitar novas ondas da epidemia. Nos períodos de abertura, talvez seja obrigatório usar máscaras para sair de casa.

O biólogo Átila Iamarino, a propósito, foi categórico no programa Roda Viva: “Após o Coronavírus, o mundo não voltará a ser o que era”, ou seja, o mundo como outrora conhecemos não existe mais, inclusive, o nosso mundo maravilhoso das viagens.

Como alertei no post Coronavírus – devo desistir ou não da viagem ao exterior?, os países poderiam instituir medidas restritivas aos turistas, tais como, proibição de entrada de estrangeiros, quarentena obrigatória, fechamento do comércio e das atrações turísticas. Além disso, companhias aéreas poderiam cancelar voos. E foi o que efetivamente fizeram!

Mas, mesmo após o relaxamento do isolamento, a preocupação com uma segunda onda de contágio poderá fazer com que os governos reintroduzam medidas restritivas. Para ter uma ideia do que isso representa para o turista, basta ver o que está acontecendo agora com os brasileiros “presos” no exterior.

Além da preocupação com as medidas governamentais, você também deve se preocupar com a sua saúde.

Enquanto não houver uma vacina para o Coronavírus e enquanto não houver uma grande cobertura vacinal, não será seguro viajar, especialmente, para o exterior. Aliás, a COVID-19 também atinge os mais jovens, não apenas o chamado “grupo de risco”. Para exemplificar, destaco as reportagens a seguir:

Por fim, após a pandemia, o “trauma” causado pela experiência de 2020 pode levar os países a introduzir restrições e exigências permanentes para os turistas estrangeiros.

Antes de pensar em viajar, você deverá estar ciente de tudo isso!

2. Crise Econômica

Paralelamente à pandemia do Coronavírus, já estamos sofrendo uma crise econômica decorrente da paralisação de várias atividades econômicas.

Qualquer que seja a sua profissão, seja você um assalariado, um microempresário ou um profissional liberal, você poderá ter uma perda de renda, temporária ou permanente, até que a economia comece a se recuperar, o que pode levar em torno de 6 meses.

  • Mesmo funcionários públicos e aposentados podem ter seus salários e benefícios atrasados em razão da crise fiscal que assola os governos de todas as esferas.

Nesse cenário, seria razoável pensar em novos gastos, mesmo sabendo que você poderá não usufruir dos benefícios?

A prudência recomenda que a gente faça agora apenas gastos voltados a atender às necessidades básicas. É hora de fazer algumas economias e se preparar para o que há por vir.

Afinal, de que adianta programar uma viagem, fazer gastos desde já e ter que cancelá-la mais à frente por razões econômicas ou de saúde pública?

3. Setor de Turismo em crise

O setor de turismo é, sem dúvida, o mais afetado pela pandemia. Agências de turismo, operadoras, companhias aéreas e hotéis poderão vir à falência e o desligamento de empregados nesse setor será alto sem a ajuda dos governos.

Mas, somente as empresas estratégicas, como as companhias aéreas, devem receber um tratamento especial do Estado. No Brasil, por exemplo, foi editada a MP 925/2020 especificamente para tratar dos aeroportos concedidos e das companhias aéreas. Estas, a propósito, já vinham sofrendo desde 2019 com a variação cambial.

As demais empresas de turismo (hotéis, agências de turismo, etc.) deverão ter o tratamento das empresas em geral, ainda que sejam mais afetadas pela crise. Veja, por exemplo, a MP 936/2020.

Claro que, como turistas, teríamos uma obrigação moral de ajudar as empresas do setor, mas nós também fomos (ou seremos) afetados pela crise econômica. Cabe, principalmente, aos governos vir ao socorro das empresas.

  • No meu caso, por exemplo, já tive que cancelar uma viagem de 15 dias totalmente paga à Europa e não consegui reembolso. No máximo, vouchers ou remarcação de hotéis.

Nesse contexto, você tem certeza que a agência de turismo, que a companhia aérea ou que o hotel contratados estarão de pé no momento em que for viajar? Você está disposto a correr esse risco?

4. Dólar Alto

Ontem, o dólar comercial atingiu a cotação de R$ 5,32, o ponto mais alto desde o plano real.

Em outras oportunidades em que o real se desvalorizava, recomendei adotar algumas medidas para não desistir da sua viagem ao exterior. Mas, o patamar atual passou de todos os limites razoáveis. Quando a epidemia acabar, é hora de viajar pelo Brasil!

Ademais, os patamares atuais da cotação do dólar são artificiais. É bem possível que, em 2021, o dólar retorne aos R$ 4,50, se a economia começar a se recuperar. Ou seja, dias melhores virão!

5. Calendário Escolar

Se você é estudante universitário ou se já tem filhos na escola, certamente, não tem certeza de como ficará o calendário escolar em 2020. Portanto, não tem como planejar a sua viagem.

Antes de pensar em viajar, aguarde para ver como serão feitas as reposições de aula. Mas, desde já, esqueça as férias de julho de 2020!

E se, mesmo assim, eu quiser viajar?

Se, após tudo isso, você ainda quiser começar a planejar a sua viagem, opte por viajar pelo Brasil após outubro de 2020. Antes disso, não é seguro, conforme informações do  próprio Ministério da Saúde.

Além disso, dê preferência às viagens de carro. Certamente, você vai encontrar destinos interessantes próximos à sua cidade. Os voos, mesmo após o pico da epidemia, poderão estar sujeitos a cancelamentos ou alterações. Ademais, viajando de carro você não precisa desembolsar nada agora.

Por fim, faça reservas canceláveis para pagamento no local. Se tiver que desistir da viagem, não vai incorrer em gastos desnecessários. Acima de tudo, pense em flexibilidade!

Conclusão

A pandemia terá efeitos graves sobre a saúde pública e sobre a economia, afetando severamente o setor de turismo. Entretanto, ela vai passar. Não sabemos exatamente quando. Só que, por enquanto, não dá para fazer planos para viajar, especialmente, para o exterior. É hora de ficar em casa e fazer a sua parte colaborando para achatar a curva!