Namíbia, Sim! 12 motivos para você visitar a Namíbia

A primeira vez que ouvi falar em viagem à Namíbia foi em 2011 durante uma viagem para a África do Sul. Na Cidade do Cabo, conhecemos um casal português que nos deu excelentes dicas sobre a metrópole sul-africana e ainda sugeriu que visitássemos dois países vizinhos: Namíbia e Botsuana. Segundo eles, dois destinos excepcionais!

Em 2012, um casal alemão nos fez a mesma recomendação. Haviam feito um tour completo de vários dias pela Namíbia. Memorável, segundo diziam. Mesmo assim, não lhe demos a devida importância. Afinal, havia outros países com maior prioridade em nossa Wish List.

Foi só após assistir a uma peça de teatro que o destino ficou marcado em nossa memória e passou a ser considerado em nossos planos de viagem. O espetáculo cômico chamava-se “Namíbia, Não!”, com texto de Aldri Anunciação e direção de Lázaro Ramos. A obra recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura – Literatura Juvenil (2013) e já foi encenada em vários países.

Na ficção, o Governo brasileiro editou uma Medida Provisória obrigando que todos os cidadãos de ‘melanina acentuada’ fossem capturados e enviados imediatamente à África. Seria uma medida de reparação pelos 4 séculos de escravidão. Entretanto, os cidadãos negros só poderiam ser capturados na rua. Em razão disso, os dois primos, André e Antônio, passavam o dia confinados num apartamento, debatendo várias questões sociais, seus anseios e as consequências de um iminente retorno à África. Quem fosse pego receberia um catálogo de países para onde poderia ser enviado. Cogitando a respeito, os primos teriam dito ‘Namíbia, Não!’. Afinal, tratar-se-ia de um estranho país ‘onde se falava alemão’.

Em 2019, finalmente, conseguimos visitar a Namíbia. Sem dúvida, uma experiência incrível, marcante, num destino pouco conhecido dos brasileiros. Pretendemos voltar.

E, diferentemente da peça de teatro, eu digo: ‘Namíbia, Sim!”.

A seguir, confira os 12 principais motivos para você visitar a Namíbia!

1. Paisagens naturais surpreendentes

Deadvlei, Namíbia
Deadvlei, Namíbia

Um vale branco. Árvores centenárias que não se decompuseram. Dunas gigantescas vermelho alaranjadas. Um céu azul brilhante. Cinematográfico? Sim! Essa é uma das paisagens mais deslumbrantes que você vai ver na sua vida. E ela está na Namíbia, em Sossusvlei – Deadvlei.

Guarde o fôlego para subir na “Big Daddy” [foto em destaque] com sua areia fofa e seus incríveis 380 metros de altura (considerada a maior duna do mundo).

Sente-se no topo, descanse, tire muitas fotos e depois escorregue ou desça brincando, até chegar ao vale calcário (Deadvlei) onde as árvores centenárias ainda mantêm sua estrutura devido ao clima seco que as petrificou.

Duna 45, Sossusvlei, Namíbia
Duna 45 em Sossusvlei

É na Duna 45 onde os visitantes apreciam o por do sol mais incrível. É uma mistura de tons de amarelo, vermelho e laranja, provenientes da duna e do astro maior. Infelizmente, só visitamos a duna durante o dia.

Por do Sol no Desert Camp, Namibia
Por do Sol no Desert Camp: nossa hospedagem no deserto.

À noite, no seu lodge, você poderá apreciar o céu tão estrelado que não terá vontade de entrar na sua cabana. Nem no Atacama vimos tamanha escuridão pontilhada de luzinhas brilhantes. Tudo isso envolto num silêncio tão extremo, que o único som que ouvimos foi o do nosso coração deleitando-se com a experiência.

2. Isenção de Visto de Turismo

Brasileiros, portugueses, angolanos e moçambicanos não precisam de visto para visitar a Namíbia. Podem permanecer no país por até 90 dias durante o ano calendário. Por sua vez, cidadãos da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe podem obter o visto na chegada (visa on arrival) mediante o pagamento de uma taxa ($1.000 NAD ou aprox. 70 USD).

Na minha opinião, a isenção de visto é um importante convite para você visitar o país. Afinal, dispensa uma burocracia a mais para o turista, sem falar no pagamento de taxas consulares.

Durante o período de pandemia, restrições à entrada no país podem ser aplicáveis.

Não deixe de consultar a Embaixada da Namíbia para maiores informações.

3. Fácil Acesso

Aeroporto Internacional Hosea Kutako, Windhoek (WDH), Namíbia
Aeroporto Internacional Hosea Kutako, Windhoek (WDH)

Partindo do Brasil, é possível chegar à Namíbia com apenas uma conexão, que pode ser feita em Luanda (Angola), Johanesburgo (África do Sul) ou em Addis Abeba (Etiópia). De Portugal, é possível chegar via Frankfurt, Luanda ou Addis Abeba.

Em tempos de pandemia, algumas rotas podem estar inoperantes.

Os principais aeroportos do país são o Aeroporto Internacional Hosea Kutako (WDH), que serve Windhoek, a capital do país, e o Aeroporto Internacional de Walvis Bay (WVB), no litoral.

4. Inglês

Quase todo mundo fala Inglês na Namíbia, o que facilita bastante a sua viagem. Apesar de não ser língua materna da maioria dos habitantes, Inglês é a língua oficial do país e é de ensino obrigatório nas escolas. Ademais, toda a sinalização, cardápios, formulários e documentos estão em inglês.

Na Namíbia, existem várias línguas regionais (de caráter semioficial), tais como, oshiwambo, nama/damara, africâner, kavango e herero. O alemão só é falado por uma minoria branca de descendentes alemães, apesar da colonização.

Só nas áreas rurais é possível que você encontre alguém que não fale inglês.

5. Namíbia não sofre com o overtourism

Orla de Swakopmund, Namíbia
Orla de Swakopmund (Swakopmund Mole)

Uma das grandes vantagens de se visitar a Namíbia é que o país não está nos principais roteiros de viagem globais e, portanto, não sofre com o overtourism – o turismo em excesso.

O overtourism afeta diretamente a qualidade de vida no destino, podendo, ainda, destruir o meio ambiente e o patrimônio histórico local. Não são apenas os habitantes locais que são perturbados, o turista também tem sua experiência prejudicada. Quem já visitou o Museu do Louvre, em Paris, ou a Casa Batlló, em Barcelona, sabe do que estou falando.

A Namíbia é um país com uma das menores densidades populacionais no mundo. São apenas 2,5 milhões de habitantes (2019) para 825 mil km² de área. Ou seja, 1/10 da área e 1/100 da população do Brasil.

Se você não gosta de multidão, a Namíbia é o seu destino. Na maior parte do país, você vai sentir que é só você e seus companheiros de viagem a apreciar as belíssimas paisagens e a vida natural.

De qualquer forma, com o tempo, tudo pode mudar.  Visite o quanto antes!

6. Segurança

Durante o século XX, o território onde atualmente encontra-se a Namíbia (à época, chamava-se África SudoesteSouth-West Africa) foi palco de lutas, guerras, revoltas e até de genocídio (praticado pelo Império Alemão).

Entretanto, desde a sua Independência (1990), a Namíbia é um país estável politicamente com um regime democrático, constitucional e parlamentarista. Não se deve esperar, portanto, episódios de agitação civil ou violência política.

No tocante à criminalidade ordinária, os crimes mais comuns na Namíbia não são violentos, tais como, furtos de bolsas ou batedores de carteira. Mas, caminhando pelas cidades, a gente tem uma boa sensação de segurança, o que não é comum nas cidades brasileiras.

De qualquer forma, é importante tomar as cautelas de praxe com os pertences e dinheiro, evitando demonstrações exteriores de riqueza.

7. Visitação em qualquer época do ano

Etosha National Park, Namíbia
Etosha National Park (créditos: Joachim Huber, CC BY-SA 2.0 – Wikimedia Commons)

Na Namíbia, há basicamente duas estações do ano: o verão, de novembro a abril, e o inverno, de maio a outubro. As chuvas acontecem no verão, mas estão localizadas, principalmente, no norte e nordeste do pais, nas áreas não desérticas. São tempestades curtas e intensas que ocorrem, geralmente, no período da tarde. Por sua vez, o inverno é seco no país inteiro.

São mais de 300 dias de sol por ano, o que permite visitar a Namíbia em qualquer época do ano, especialmente, a região costeira e a região desértica.

Durante a época das chuvas, entretanto, o turista poderá enfrentar alguma dificuldade na região norte, ao visitar o Parque Nacional Etosha, mas, via de regra, isso não irá atrapalhar os planos de viagem.

De qualquer forma, a melhor época para visitar o Etosha é nos meses mais secos de inverno (julho e agosto). Nessa época, as fontes de água estão mais escassas e os animais se juntam próximos a esses pequenos poços d’água [vide foto acima], tornando mais fácil observá-los e fotografá-los (fonte: WayfairerTravel).

8. Vida selvagem

Cheetahs [guepardos] em Solitaire, Namíbia
Guepardos no Cheetah Sanctuary em Solitaire, Namíbia

Já dissemos que as paisagens são incríveis! Porém, observar a vida selvagem em seu habitat natural naquele ambiente árido é indescritível.

O Etosha National Park é uma das maiores reservas naturais da África. O parque tem mais de 22mil km de extensão e é o habitat de inúmeros animais como gazelas, girafas, zebras, chitas e hienas, além, é claro, dos Big Five: leopardo, elefante, rinoceronte, leão e búfalo.

Estacione perto de um poço e apenas aguarde para saber quem será o próximo animal que irá matar sua sede por lá. Uma amiga teve a oportunidade de fotografar um leão com a juba suja de sangue após sua alimentação. Chocante! Mas se trata simplesmente da vida selvagem.

Há quem compare o Etosha National Park ao famoso Kruger Park, na África do Sul. Apesar de o primeiro ter um acesso um pouco mais difícil, e talvez um pouco menos animais, o fato de ter menos turistas e  as paisagens desérticas encantadoras colocam o Etosha como o preferido dos visitantes.

Caso opte por visitar apenas o deserto da Namíbia, também terá a oportunidade de apreciar alguns animais em seu habitat natural, enquanto dirige pelas estradas. Em Solitaire, fizemos um tour em um santuário onde pudemos observar alguns guepardos (cheethas) que foram resgatados e, infelizmente, não podem ser devolvidos à natureza, ou por terem alguma lesão ou por não terem aprendido a se alimentar e se proteger sozinhos (muitos novos ao resgate).

O país também é um paraíso para quem gosta de pássaros. São mais de 700 espécies, incluindo avestruz, pinguim e pelicano.

9. Passeios para todos os gostos

Ônibus de Turismo, Chameleon Safaris, Namíbia
Ônibus de Turismo da Chameleon Safaris

Na Namíbia, você encontra passeios para todos os gostos e bolsos. Há tours guiados ou self-driving. Há tours com duração variada (desde os day trips até tours de 14 dias). Você pode hospedar-se em campings ou em lodges. Há tours aéreos ou terrestres.

Além disso, há tours mais voltados descobrir as paisagens naturais, outros voltados para a vida selvagem e, ainda, os tours voltados a conhecer a história e a população locais.

10. Limpeza e organização das cidades

Christuskirche, Igreja Luterana, Windhoek, Namíbia
Vista de Windhoek. Na rotatória, encontra-se a Christuskirche, uma igreja luterana.

Certa vez, ao chegar à Namíbia, um Presidente da República brasileiro discursou:

“Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão extraordinário como tem essa cidade”.

Do ponto de vista diplomático, a afirmação foi uma gafe, mas retrata a impressão que o brasileiro médio tem ao visitar as cidades grandes da Namíbia, tais como, Windhoek e Swakopmund.

Pelo menos na região central, tudo é muito limpo e arrumado. Você encontra prédios modernos e um bonito paisagismo que contrasta com o clima árido da região.

11. História esquecida

Prisioneiros do Império Alemão na Namíbia
Prisioneiros do Império Alemão na Namíbia (Museu da Independência)

Visitar a Namíbia é a oportunidade de conhecer uma história esquecida de vários povos e de sua colonização. Habitada por diversos povos nômades como os Nama, os Herero, os Ovambos e os Himbas, viu a chegada dos europeus (portugueses, holandeses, ingleses e alemães) e, posteriormente, os sul-africanos.

Antes da sua independência (1990), a Namíbia era chamada de Sudoeste Africano (South-West Africa). O nome Namíbia veio provavelmente do Deserto de Namibe, que se estende pela costa desde o sul de Angola até o norte da África do Sul. O termo Namibe significa “lugar amplo”.

De 1883 até o final da I Guerra Mundial, a Namíbia foi colonizada pelo Império Alemão (Segundo Reich). Poucos sabem que foi neste período em que surgiram as bases ideológicas do Nazismo. Em 1904, uma rebelião dos povos locais (Herero e Nama) gerou conflitos com os alemães que descambaram no primeiro genocídio do século XX. Estima-se que 10 mil Namas (50% da população) e 65 mil Hereros (de um total de 80 mil) morreram em virtude da ação dos alemães.

Na primeira fase, as mortes foram causadas pela fome e pela desidratação. Alguns Hereros fugiram para uma região seca (Omaheke).  Por sua vez, as forças alemãs passaram a guardar todas as fontes de água e receberam ordens para atirar em qualquer Herero que avistassem. Além disso, alguns poços de água também foram envenenados pelos alemães (fonte: Wikipedia).

Na segunda fase, os prisioneiros Hereros e Namas foram levados para campos de concentração, localizados em Lüderitz, Swakopmund, Ojahandja, Windhoek e Karibib. O mais famoso, sem dúvida, é o campo localizado na Shark Island em Lüderitz, que também funcionava como um campo de extermínio (fonte: Wikipedia).

O transporte dos prisioneiros até os campos de concentração era feito em trens de gado (cattle trains) nos mesmos moldes do período nazista. Os prisioneiros também recebiam um número e muitos eram escravizados. A propósito, muitas das construções de Swakopmund foram feitas por prisioneiros escravizados.

Nesses campos de concentração, os prisioneiros foram submetidos a vários experimentos médicos e por lá também foram testadas as teorias “científicas” da superioridade racial ariana.

Eugen Fischer foi um dos “cientistas raciais” que chegou à Namíbia para conduzir as pesquisas com os prisioneiros e com os crânios dos mortos. A propósito, diversos crânios de povos Herero e Nama foram levados para estudo na Alemanha. As ideias de Fischer serviram para justificar, posteriormente, as crenças do Partido Nazista de superioridade racial em relação aos judeus.

Cabeças de Prisioneiros da Shark Island utilizados em Pesquisas Raciais, Namíbia
Cabeça de Prisioneiro da Shark Island utilizada em Pesquisas Raciais

Desde 2011, a Alemanha vem devolvendo à Namíbia os crânios das vítimas que foram levados para “estudos” raciais. Só recentemente, em 28 de maio de 2021, a Alemanha reconheceu ter cometido genocídio na Namíbia, pedindo desculpas aos descendentes e oferecendo um programa de 1,1 bilhão de euros para reconstrução e desenvolvimento do país (fonte: DW Brasil).

12. Conhecer pessoas interessantes

Companheiros de Viagem à Namíbia, na Duna Big Daddy, Sossusvlei
Companheiros de Viagem à Namíbia, na Duna Big Daddy, Sossusvlei

A Namíbia costuma ser um destino turístico de viajantes experientes. Isso não significa que quem viajou pouco para o exterior não vá se encantar com esse país.

O fato é que você vai encontrar muitas pessoas interessantes pelo caminho, em especial, se você estiver viajando por vários dias com um tour organizado (Eu recomendo!). São pessoas de vários países, de várias idades e com diferentes backgrounds, que passam muitos momentos juntos, onde podem trocar muitas experiências. São pessoas de “cabeça aberta” e com uma visão de mundo mais ampla.

Para nós, talvez esse contato pessoal tenha sido, de fato, a parte mais importante em nossa viagem para a Namíbia.

E os pontos negativos?

Sempre digo que não existe destino turístico perfeito e a Namíbia não é exceção à regra. Confesso que algumas poucas coisas me incomodaram durante a viagem, mas nada que me faça desistir de voltar para lá.

Em primeiro lugar, achei ruim a estrutura e o atendimento no Aeroporto Internacional Hosea Kutako (WDH), de Windhoek: desde o trâmite na imigração, as lojas de câmbio fechadas e até a dificuldade de encontrar um taxi.

Por isso, recomendo seriamente que você leve cartões para sacar dinheiro nos caixas eletrônicos (ATMs) e reserve seu translado com antecedência.

Você pode ainda trazer Rands (moeda sul-africana), que é aceita na Namíbia, e 1 rand equivale a 1 dólar namibiano. Essa opção é especialmente interessante se a África do Sul fizer parte do seu roteiro de viagem.

Em segundo lugar, observei a dificuldade de se deslocar por conta própria em Windhoek. O transporte público é quase que inexistente e só há taxis privados ou compartilhados. Portanto, para distâncias longas, inclusive para ir ou voltar do aeroporto, você terá que chamar um taxi e aguardar.

Considerações finais

Convém, ainda, fazer algumas observações sobre a Namíbia. Não são pontos negativos, mas algumas constatações que o turista precisa saber antes de visitar.

Namíbia não é um destino barato, especialmente, com a recente mega-desvalorização da moeda brasileira. Mas, também não se compara aos destinos americanos e europeus. Em Windhoek ou Swakopmund, é possível encontrar hotéis e pousadas bons com diárias entre R$ 400 e 600. O Hotel Hilton, por exemplo, tem diárias por R$ 600 para duas pessoas com café da manhã. Por sua vez, um tour de 3 dias em quarto compartilhado custa a partir de 631 Euros por pessoa, com algumas refeições inclusas.

Por fim, não espere da Namíbia um destino gastronômico. Você poderá encontrar bons restaurantes por lá, especialmente, nas cidades maiores. Mas, as comidas simples, geralmente preparada pelo seu guia, durante os seus tours, irão te surpreender.