O novo Coronavírus (Sars-Cov-2) se espalha pelo mundo e, infelizmente, o número de casos confirmados e de mortes só aumenta. Na última semana, as autoridades de diversos países se deram conta da gravidade do problema e passaram a adotar medidas para evitar a propagação do vírus, dentre as quais, o fechamento de estabelecimentos, as quarentenas e o controle rigoroso das fronteiras, quando essas não estão fechadas.

Apesar de tudo, há boas notícias e elas vem da China, de onde a epidemia começou. Nessa quinta-feira, a China anunciou que não registrou nenhum caso de transmissão local do novo coronavírus. Esse sucesso no combate à transmissão do vírus é resultado de muito trabalho, de liderança e de solidariedade do povo chinês.

Não é hora de ficar buscando culpados ou de fazer acusações irresponsáveis como alguns políticos brasileiros estão fazendo. Está na hora de aprender com a experiência chinesa e de agir. A propósito, o controle sanitário em nossos aeroportos está deixando muito a desejar (Saiba mais aqui).

Nesse contexto, vale a pena conhecer a experiência de um brasileiro que vive na China e contou como foi retornar ao país, em março de 2020, em tempos de Coronavírus.  Gabriel F. vive em Shenzhen, na província de Guangdong (Cantão), ao lado de Hong Kong. Ao conversar conosco, ele ressaltou que as medidas restritivas são necessárias e produzem efeito. Confira!

Minha volta para a China

Cheguei em Beijing [Pequim] às 15:30 do dia 14 de março. Logo após pousar, as autoridades informaram que ninguém poderia sair do avião.

Um tempo depois, médicos e policiais com roupas de cinema entraram e pediram para que pessoas que estavam vindo da Itália levantassem e saíssem do avião. Seriam mandados direto para uma quarentena de hospital para exames.

Chegando de avião em Beijing em temos de Coronavírus
Chegando de avião em Beijing em temos de Coronavírus

Duas horas depois, fomos liberados e, com toda a preparação e fiscalização na alfândega, perdemos nosso voo de conexão Beijing – Shenzhen, o único voo para o sul naquele dia.

Na alfândega, normal, a política muda de acordo de onde você vem. Até hoje, o Brasil não está na lista negra mundial.

Tomamos a decisão de ir de trem. Do aeroporto para a estação fomos de táxi. Na estação de trem, mais um check-up para quem está vindo de fora. Registro, fiscalização e fomos liberados para entrar no trem. Seriam mais 11 horas noturnas até Shenzhen e, a cada 3 horas, um policial entrava em nosso quarto para ver se estávamos bem e fazia perguntas sobre o trajeto.

Chegamos em Shenzhen e, novamente, fomos recebidos por autoridades de saúde. Mais check-up. Tinha uma lista com países em que pessoas vindo desses lugares, não podiam ser liberadas. Fizemos um registro no Wechat em que fica gravado todo nosso trajeto desde o Brasil até o meu destino. E fomos liberados.

Chegando no nosso condomínio, a administração chamou a polícia pra gente fazer mais um registro e fomos informados que teríamos que ir para um hotel do governo fazer exames.

No hotel, nos informaram que deveríamos ficar 3 dias em quarentena lá. Domingo, não tem exame e o exame, que será feito na segunda, demorará 24h pra ter resultado. Um hotel, de GRAÇA, com alimentação de GRAÇA, mas que não posso sair até o resultado sair.

Nesse momento estou aqui no hotel. Bem tranquilo. Impressionado com a organização desse país gigante com tantas pessoas. Fomos muito bem recebidos, todos bem educados e amigáveis, inclusive pedindo desculpas pelo transtorno. É necessário quarentenas, é necessário sacrifício mas não é preciso pânico. O país que teve o início do vírus, se preparou sem uma diretriz da OMS e organizou tudo sem pânico.

Daqui do hotel, em Shenzhen, digo: não compartilhem teoria da conspiração e não se desesperem. A luta contra o vírus é simples, apenas um pouco chata.

Estou feliz por voltar para casa e claro, agradecer as autoridades chinesas pelo trabalho e seriedade em lidar com o problema.

Negativo pro Coronavírus!

Hoje, dia 17 de março, recebemos nossos exames e fomos liberados da quarenta no hotel do governo.

Ainda tenho mais 14 dias de quarentena voluntária em casa. Por que voluntária? Como a situação aqui, domesticamente, já está controlada, e o pessoal de Wuhan já está podendo sair e voltar pras províncias onde trabalham, nós não estamos proibidos de sair pra ir ao mercado. Porém, iremos respeitar a luta de todos os chineses e ficarmos bonitinhos em casa.

O governo chegou a nos oferecer mais 14 diárias grátis no hotel de quarentena.

Nas ruas, todos de máscaras, lei, obrigação usar. Mas vida tá começando a ficar normal, bom ver movimento, lojas abertas e com o povo mais leve e relaxado. A propósito, Shenzhen já é  considerada uma cidade de risco mínimo.

Em qualquer lugar, tem alguém pra medir a temperatura e oferecer álcool gel na sua mão. Enquanto isso, em outros países, lojas passando a mão no preço e pessoas estocando álcool gel pra 3 gerações sem se preocupar que o outro pode precisar.

Os guardas estão a disposição para entregar todos os delivery que pedirmos até a porta de nossa casa.

A preocupação com o próximo é algo generalizado e impressionante. Dizem que o chinês não é bom em esporte coletivo, mas dá aula de coletividade e civilidade.

É mais que possível vencer esse vírus. Não tem forma milagrosa. É só acabar com a propagação.


Obrigado ao Gabriel por gentilmente ter cedido o seu depoimento e as imagens.