Recentemente inaugurado na cidade de São Paulo, o Museu da Vacina é uma excelente opção de passeio educativo para conhecer mais sobre as vacinas e a importância da imunização na saúde individual e coletiva.
Localizado no Parque da Ciência do Instituto Butantan, o museu apresenta atividades interativas que visam ensinar ao público o processo de produção dos imunizantes, o funcionamento do nosso sistema imunológico e a história da vacinação. Tudo isso de forma leve, divertida, agradável e combatendo a desinformação.
O museu é atração obrigatória tanto para adultos quanto para crianças. Se estiver na capital paulista, não deixe de conhecê-lo! Neste artigo, você confere todas as dicas e informações para ter uma visita proveitosa ao Museu da Vacina, em São Paulo.
Sobre o Museu da Vacina
Inaugurado em 7 de março de 2023, o Museu da Vacina é um espaço interativo, com hologramas, jogos e projeções, composto de 8 espaços de visitação. O museu tem por objetivo “chamar a atenção da população sobre a necessidade da vacinação, dialogar sobre ciência e demonstrar o quanto os imunizantes são seguros e eficazes”.
O Museu da Vacina, conforme mencionamos, faz parte do Parque da Ciência, um amplo complexo educativo do Instituto Butantan, situado na zona oeste de São Paulo/SP. Com uma área de 550 m², o museu fica na Casa Rosa, a antiga sede da Fazenda Butantã.
A ideia de criação de um museu sobre vacinas surgiu em 2018, mas a pandemia acabou atrasando os planos do Instituto Butantan. No total, foram investidos R$ 13 milhões.
Segundo divulgado, este seria o 1° museu da América Latina dedicado exclusivamente à vacina. Entretanto, talvez ele seja o único do mundo totalmente dedicado aos imunizantes.
De fato, após uma pesquisa na Internet, o que encontramos mundo afora são seções de museus de ciência ou medicina dedicadas à vacinação, mas nenhum museu exclusivo sobre o tema. Vejamos alguns exemplos:
- Museum of Science, Boston/EUA: o Project Vaccine é uma exposição permanente que se concentra na ciência, história e pessoas por trás do desenvolvimento de vacinas. Você pode aprender sobre vacinas e seu desenvolvimento, transmissão viral e as muitas etapas e inúmeros profissionais envolvidos na criação e implementação de vacinas.
- History of Science Museum, Oxford/Reino Unido: o projeto Collecting COVID conta a história da resposta extraordinária da Universidade de Oxford à pandemia. O museu e a Biblioteca Bodleian estão unindo forças para coletar histórias da pandemia COVID-19 e as respostas extraordinárias a esse desafio global em toda a Universidade de Oxford.
Por que visitar o Museu da Vacina?
Acabamos de passar pela pandemia da Covid-19, que só no Brasil resultou em mais de 700 mil mortes, restringiu nossa liberdade de ir e vir e impôs diversas outras limitações às nossas viagens, à economia e à vida social.
Se ainda estamos aqui, é em razão das vacinas, que permitiram a volta à normalidade. De fato, inúmeros estudos apontaram a efetividade dos imunizantes na prevenção de mortes por Covid-19 e dos casos graves ou sintomáticos da doença (veja aqui, aqui e aqui). Nada mais natural, portanto, que visitar um museu dedicado a esses imunizantes que salvaram tantas vidas.
Apesar de o Brasil ter uma longa tradição em vacinação, sofreu bastante com a desinformação oriunda de movimentos antivacina (Antivax), que, até pouco tempo, tinham pouca expressividade do país. Além do atraso no início da vacinação da Covid-19, foi disseminada uma descrença nos imunizantes da Covid-19, fatos que prejudicaram a formação da chamada “imunidade de rebanho”, condição essencial para que retornássemos à vida normal. Até mesmo a cobertura vacinal de outros imunizantes caiu nos últimos anos, favorecendo o retorno de doenças já erradicadas.
Visitar o Museu da Vacina é, sem dúvida, um caminho contra a desinformação. É uma oportunidade de se aprofundar na ciência, no método científico, e de identificar as chamadas “pseudociências” e as asneiras que estão tão difundidas nas redes sociais.
Turismo, caros amigos, não é só entretenimento. É também aprendizado, no mais amplo sentido da palavra! O turista jamais pode ter a cabeça fechada. Deve estar pronto para descobrir novas coisas, pessoas e lugares e sentir o encanto em todo esse processo. Turistar é voltar transformado e o museu da vacina é uma oportunidade única de transformar a sua vida e de sua comunidade.
Se isso tudo não bastasse, o museu da vacina, ainda que com poucas salas, foi construído com extremo capricho, seus funcionários são atenciosos e o preço do ingresso é irrisório. Em suma, vale muito a visita!
Roteiro de Visitação
Para ingressar no Museu da Vacina, é necessário apresentar o seu ticket adquirido na bilheteria do Parque da Ciência (cf. informações abaixo). O Museu da Vacina é composto por 7 salas, percorridas em sequência, e por um cinema 6D. Antes de iniciar o trajeto, não esqueça de pegar a sua senha do cinema.
Antes de começar: o que são vacinas?
Nosso sistema imune é composto por uma extensa rede de órgãos, células e moléculas cuja finalidade é combate dos agentes agressores externos ao corpo humano. Existem, basicamente, dois tipos distintos de proteção: a imunidade inata e a imunidade adquirida.
A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo humano. Todos nascem com uma proteção rápida sem especificidade e limitada aos estímulos corporais. A imunidade inata é representada por barreiras físicas, químicas e biológicas presentes em todas as pessoas.
A imunidade adquirida, também conhecida como adaptativa, reconhece cada tipo de patógeno e age de maneira específica para combatê-los. Além disso, ela cria memória imunológica, para que haja uma memória de defesa para saber como destruir aquele patógeno específico em caso de invasões futuras.
Para saber mais sobre a diferença entre imunidade inata e adquirida, leia aqui.
As vacinas, por sua vez, são estratégias para preparar o nosso sistema imune para enfrentar uma doença, criando uma memória imunológica. O objetivo de toda vacina é fazer o sistema imune pensar que o corpo está doente e reagir. Qualquer coisa que se faça passar por microrganismo causador da doença e que seja bem-sucedida em despertar uma resposta imune é boa candidata a vacina [fonte: Natália Pasternak e Carlos Orsi. Contra a Realidade: a negação da ciência, suas causas e consequências].
Em resumo, a vacina é uma preparação biológica que gera uma memória de defesa (imunidade adquirida ativa) contra uma doença específica, sem que o indivíduo desenvolva essa doença. Preparado, o sistema imune reage de forma mais rápida e efetiva a futuras infecções.
Vamos começar o nosso roteiro!
Para saber mais, leia o seguinte artigo da OMS: Como funcionam as vacinas?
Sala 1 - Os pioneiros
A primeira sala do Museu da Vacina é dedicada aos pioneiros da imunização e da microbiologia. Logo na entrada, o visitante é apresentado a três personagens cujas contribuições foram essenciais para o desenvolvimento das vacinas (na foto, da esquerda para direita):
Edward Jenner (1749-1823), Inglaterra: é considerado o “pai da imunização” e desenvolveu a primeira vacina para a varíola, uma doença altamente contagiosa e mortal que matou milhões de pessoas em todo o mundo. Jenner observou que as pessoas que haviam contraído uma forma leve de varíola bovina não contraíam a varíola humana e usou essa observação para desenvolver a primeira vacina, a partir do vírus da varíola bovina.
Louis Pasteur (1822-1895), França: foi um dos fundadores da microbiologia e desenvolveu a teoria dos germes, que explicou como as doenças eram causadas por microrganismos invisíveis. Pasteur também desenvolveu a técnica de pasteurização, que é usada para esterilizar alimentos e bebidas, matando microrganismos patogênicos.
Robert Koch (1843-1910), Alemanha: foi um dos pioneiros da bacteriologia e descobriu a causa de várias doenças infecciosas, incluindo a tuberculose e a cólera. Koch desenvolveu a técnica de coloração de Gram, que é usada para identificar diferentes tipos de bactérias.
Importante mencionar que até o século XIX, acreditava-se que as doenças eram causadas por miasmas, ou seja, odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefação em solos e lençóis freáticos contaminados. O termo malária, por exemplo, tem origem “mal” + “ar”, refletindo essa concepção. Dessa forma, a contribuição de Pasteur e de Koch foi fundamental para uma mudança de concepção e substituição da teoria miasmática pela teoria microbiana.
Além desses pioneiros, outros cientistas mais contemporâneos e que desenvolveram as bases científicas e tecnológicas para a produção das vacinas foram destacados nesta primeira sala: Maurice Hilleman (40 vacinas experimentais e licenciadas), John Enders (vacina contra o sarampo), Jonas Salk (vacina de vírus inativado contra a poliomelite) e Albert Sabin (vacina de virus atenuado contra a poliomelite).
Nada obstante, ressalta-se que, nos dias atuais, o desenvolvimento e a produção de vacinas é uma obra coletiva e menos personalizada. Afinal, os esforços de pesquisa envolvem o trabalho de uma equipe de pessoas com diferentes competências. Tais esforços, de fato, vão desde a compreensão da doença e do patógeno até o desenvolvimento do imunizante e os testes com milhares de voluntários mundo afora.
Sala 2 - Tipos de Imunizantes
Nesta sala, você encontra tablets e fones de ouvido com atividades interativas que ensinam sobre dois temas: os tipos de vacinas e o processo de produção da vacina influenza realizada pelo Instituto Butantan.
Apenas a título de informação, existem várias classificações possíveis para os tipos de vacinas. Uma classificação interessante é apresentada por Natália Pasternak, dividindo os imunizantes em três gerações: primeira, segunda e terceira geração [fonte acima].
A primeira geração é formada pelas vacinas feitas com microrganismos inativados ou atenuados, que são incapazes de gerar as doenças, mas aptos a estimular o nosso sistema imune. Um exemplo de vacina inativada é a Coronavac, contra a Covid-19. Exemplos de vacinas atenuadas são a vacina contra a febre amarela, a BCG, contra tuberculose, e a tríplice viral. A recém aprovada vacina contra a Dengue (Qdenga, da Takeda), também é um tipo de vacina com vírus atenuado.
A segunda geração de vacinas não utiliza o microrganismo inteiro, mas apenas pedaços deles. Esse fragmento do microrganismo também não é capaz de gerar a doença, mas já é suficiente para enganar o sistema imune. São as chamadas vacinas de subunidade. Um exemplo dessas vacinas são as contra Hepatite B e contra o HPV.
A terceira geração de vacinas não utiliza nem o microrganismo inteiro nem seus fragmentos, mas apenas a sua informação genética. São as vacinas genéticas e as vetorizadas.
As vacinas vetorizadas utilizam vírus vivos, mas inofensivos para carregar a informação genética do microrganismo alvo. Ao entrar na célula, o vírus vetor usa a maquinaria celular para produzir uma proteína do microrganismo-alvo fazendo com que o sistema imune monte uma resposta imunológica e projeta o indivíduo contra a doença. Exemplos desse tipo de vacina são o da Oxford/Astrazeneca e o da Jansen contra a Covid-19.
As vacinas genéticas não utilizam outro vírus como vetor. A informação genética, sob a forma de mRNA (RNA mensageiro), por exemplo, vai dentro de uma capsula de gordura. Da mesma forma que a vacina vetorizada, a célula irá produzir alguma proteína do microrganismo, provocando a reação do sistema imune. Um exemplo dessa vacina é a da Pfizer/BioNTech contra a Covid-19.
Sala 3 - Réplica de um Laboratório
A segunda sala contém apenas uma réplica de um laboratório de desenvolvimento e produção de vacinas, com alguns hologramas. Entretanto, esta sala não tem muito conteúdo informativo.
Sala 4 - Sala de Jogos
A sala 4 contém vários jogos educativos que buscam explicar a imunidade gerada pela vacina (imunização individual) e os efeitos da imunização em uma determinada população (imunização coletiva).
São várias telas tocáveis (touch screens) dispostas em mesas ou nas paredes com atividades relacionadas, por exemplo, à neutralização de um vírus pelos anticorpos.
Obviamente, trata-se de uma visão simplificada de como funciona o nosso sistema imune, mas apresenta ao visitante os principais atores da defesa do nosso organismo: anticorpos, linfócitos, plasmócitos etc.
Infelizmente, os jogos relacionados à imunização coletiva não estavam funcionando durante a nossa visita.
Sala 5 - Exposição Tradicional
A sala 5 apresenta uma coleção de cartazes antigos do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Brasil, criado em 1973 pelo Ministério da Saúde, que constituiu um dos maiores programas de vacinação do mundo, servindo de exemplo para muitos países. Os cartazes na parede retratam as diversas campanhas de vacinação para crianças e idosos.
Também nesta sala encontram-se antigos equipamentos utilizados na produção e na aplicação das vacinas. Um equipamento interessante é o Ovoscópio, usado para lançar feixes de luz e examinar os ovos usados na produção de vacinas. Outro equipamento interessante é aquela pistola usada para vacinação contra a varíola.
Ainda neste recinto, encontram-se antigas carteiras de vacinação (hoje, muita coisa está informatizada) e amostras de vacinas aplicadas no PNI.
Sala 6 - Glossários
A sala 6 é a mais informativa do Museu da Vacina. Considerando o ambiente de desinformação que se criou durante a pandemia da Covid-19, talvez esse seja o recinto mais importante. Sugiro passar uns 20 minutos por lá, ler os murais e realizar todas as atividades.
Nela, o visitante encontra um glossário de imunologia e vacinação, com explicações simples sobre os seus principais termos.
Ademais, ele descobre como funciona a Farmacovigilância, uma atividade destinada a “identificar, avaliar e monitorar a ocorrência dos eventos adversos relacionados a medicamentos utilizados na população após o registro”.
São questões relevantes para a farmacovigilância: reações adversas a medicamentos, eventos adversos causados por desvios da qualidade de medicamentos, inefetividade terapêutica, erros de medicação, uso de medicamentos para indicações não aprovadas no registro, uso abusivo, intoxicações e interações medicamentosas [fonte: Anvisa].
Se alguém, por exemplo, sofre um efeito adverso de uma vacina, esse evento deve ser reportado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Essa notificação ajudará a Anvisa a identificar os riscos e atualizar o perfil de segurança dos produtos, podendo até mesmo retirá-los do mercado. Em suma, é a farmacovigilância que garante a segurança dos medicamentos e das vacinas aprovados.
Por fim, a sala 6 contém diversas telas com jogos Fato ou Fake, onde o visitante vai verificar a veracidade ou não das afirmações sobre vacina que circulam por ai.
Paredes e Corredores: a História das Vacinas
Ao longo das paredes de todas as salas e dos corredores do Museu da Vacina, você encontra uma linha do tempo com a evolução do desenvolvimento e da produção dos imunizantes, no Brasil e no mundo.
Essa linha do tempo começa em 1721, quando uma aristocrata britânica deixou sua filha ser inoculada por médicos ingleses após ter viajado ao oriente e ter tomado contato com o procedimento e segue até os dias atuais: momento pré-pandemia da Covid-19, quando, em razão da baixa cobertura vacinal, o Brasil perdeu a certificação de erradicação de sarampo.
Entretanto, o que o Museu da Vacina não conta é que a história dos imunizantes começou muito tempo antes. Na China, por volta do ano 1000 d.C., já se adotavam certos métodos preventivos contra a varíola [fonte: Stefan Cunha Ujvari. História das Epidemias]:
“Os chineses retiravam as crostas das lesões cutâneas dos pacientes em convalescência, reduziam-nas a pó por maceração, o que era então assoprado através de bambuns nas narinas das crianças, fazendo com que estas ficassem preotegidas. E, pasme, esse método já era empregado ao redor do ano de 1000 d.C.”.
Sala 7 - Projeções
A última sala do museu é composta por projeções em 360º acerca de como é viver em uma pandemia. Vídeos, imagens e audio relativos à pandemia da Covid-19 são apresentados nas paredes e no teto da sala oferecendo ao visitante uma experiência sensorial bem impactante.
Cinema 6D
O cinema 6D, sem dúvida, é o ponto alto da visita ao Museu da Vacina. O visitante faz uma viagem de cerca de 15 minutos pelo corpo humano, trafegando pelo interior de uma pessoa não imunizada e também pelo interior de um indivíduo vacinado. Passamos pelo sistema respiratório e pelo sistema circulatório, entrando em contato com os glóbulos brancos, vermelhos e com os plaquetas.
Prepare-se, pois as poltronas se movimentam e o expectador vai sentir muitos solavancos, enquanto percorre o trajeto e é impulsionado pelas válvulas do coração. A experiência é sensacional e vale muito a pena.
As sessões costumam ocorrer a cada 30 minutos e utiliza-se um óculos 3D. É necessário pegar uma senha, pois são apenas 16 as poltronas disponíveis.
Informações Úteis
O Museu da Vacina faz parte do Parque da Ciência, um parque arborizado de 725.000 m² com várias atrações educativas, administrado pelo Instituto Butantan, situado no bairro do Butantã, na Zona Oeste da cidade de São Paulo.
O endereço do parque é Avenida Vital Brasil, n° 1.500. Uma via de acesso encontra-se entre um Mc Donnald’s e um Posto de Gasolina, numa curva da Avenida Vital Brasil. Logo, você encontrará uma portaria, onde pode obter mais informações. Há estacionamento dentro do próprio parque.
- Fique atento: o Maps Google pode dar informações equivocadas de rota. Apesar de o museu estar ao lado da Cidade Universitária, não há acesso pela USP. É por fora! Existe uma unidade administrativa do Instituto Butantan que fica dentro da cidade universitária, mas não tem a ver com o parque.
O ingresso ao Parque da Ciência é gratuito, entretanto, os acessos aos museus e ao Espaço Terra são pagos. O ingresso aos museus custa R$ 6. Você pode visitar vários museus, tais como, o Museu da Vacina, o Museu Biológico e o Museu de Microbiologia, no mesmo dia.
O Parque da Ciência e suas atrações, incluindo o Museu da Ciência, ficam abertos de terça-feira a domingo, das 9h às 16h45.
- Transporte Público: Para chegar ao Parque da Ciência, você pode descer na Estação Butantã do Metrô (linha 4 – amarela) e caminhar cerca de 13 minutos até a portaria do parque (cerca de 1km). Caso venha de ônibus, pode utilizar as seguintes linhas: 701U-10, 715M-10, 8026-10, 809L-10, 809R-10, 809U-10, 840, 8705-10, 8707-10.
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