É hora de repensar as nossas compras no exterior!

Está na hora de repensar nossas compras no exterior! Por diversas razões, a época em que tudo era mais barato fora do Brasil acabou. Além disso, ganha força, cada vez mais, o minimalismo como estilo de vida, aliado à preocupação com o meio ambiente e com o uso racional dos recursos financeiros e naturais. Tudo isso em oposição ao consumismo que vigora em algumas sociedades como a norte-americana.

Nesse artigo, explico porque acredito que não é mais vantajoso comprar de tudo no exterior e conto os episódios que me fizeram refletir sobre minhas aquisições. Se mesmo assim você quiser fazer suas comprinhas lá fora, passo algumas orientações fundamentais para você utilizar melhor o seu dinheiro e seu tempo nas viagens.

Voltando um pouquinho no tempo…

Desde que me entendo por gente, uma das vantagens de viajar para fora era poder comprar  bens e produtos inacessíveis no Brasil ou que aqui chegavam com preços absurdos. Vivíamos num país fechado ao comércio exterior e extremamente protecionista.

No Regime Militar, por exemplo, foi editada a Lei de Reserva de Informática que estabeleceu uma reserva de mercado para empresas de capital nacional. O resultado foi o atraso tecnológico, o que penalizou os consumidores, que foram “obrigados” a comprar equipamentos obsoletos e a preços exorbitantes.

Nessa época, portanto, fazia sentido viajar para o exterior e fazer compras.

Então, veio a abertura econômica, o plano real, a estabilidade da moeda, o aumento do poder de consumo da população, e o brasileiro esbanjou seu dinheiro em produtos importados, inclusive nos de baixa qualidade.

Não é mais tão vantajoso comprar no exterior!

Hoje em dia, muita coisa mudou. A seguir, elenco alguns motivos pelos quais considero que as compras no exterior não são mais tão vantajosas.

1. Dólar alto

Atualmente, o dólar comercial está vivendo sua alta histórica, atingindo a marca de R$ 6,00 e essa alta deve sustentar-se por um bom tempo. Viajar para o exterior ficou mais caro para os brasileiros e fazer compras por lá também.

2. Tempo valioso perdido

Preciosos dias de viagem são perdidos em outlets, lojas e shoppings, os quais seriam melhor aproveitados com as experiências que só aquele local pode lhe proporcionar. Com o e-commerce, você pode fazer compras do seu notebook, tablet ou celular sem precisar sair de sua casa! Viajar para o exterior não é barato e cada minuto deve ser bem aproveitado.

3. Compras por impulso

Em função do tempo, você pode também acabar fazendo compras por impulso.

Quem nunca viu uma suposta “promoção” na rua ou num shopping center e acabou comprando porque sabia que não ia mais passar por lá? Ao final, você percebeu que pagou mais caro ou que não precisava daquele produto!

4. Compatibilidade e Garantia dos Produtos

Quem compra produtos no exterior geralmente não usufrui de garantia no Brasil. São raras as marcas que oferecem assistência técnica internacional. Enfim, se tiver algum problema, terá que voltar ao país onde comprou.

Outra questão é a compatibilidade com os padrões e sistemas brasileiros. O exemplo mais óbvio é o dos plugs dos aparelhos estrangeiros que não são compatíveis com as tomadas brasileiras. Outro exemplo é o dos teclados de notebooks que não possuem o padrão da língua portuguesa. Enfim, talvez seja necessário adquirir adaptadores ou o aparelho pode simplesmente não funcionar a contento no nosso país.

5. Transporte dos bens

Recentemente, empresas aéreas que operam no Brasil passaram a cobrar por bagagens despachadas, o que pode chegar a até R$ 1.000,00 para os trechos de ida e volta. Mesmo que você tenha uma franquia de bagagens, poderá ter que pagar a mais pelo excesso de peso ou por uma mala extra, custo que deve ser considerado na compra dos bens.

Além disso, você sempre corre o risco de ter os bens danificados durante o trajeto.

6. Fiscalização aduaneira

A Receita Federal do Brasil está utilizando sofisticados mecanismos na fiscalização aduaneira para identificar passageiros que extrapolam as suas cotas de produtos importados. Trazendo mais de 3 itens de um mesmo produto, ainda que dentro da cota, a alfândega considera que os produtos tem finalidade comercial, podendo levar ao perdimento dos bens.

Nesse contexto, você não só paga mais caro, como também corre o risco de levar uma multa, pagar imposto, ou até ficar sem seus bens. Nos casos mais graves, poderá ainda ser processado criminalmente por contrabando ou descaminho.

  • Sugiro a todo viajante assistir os episódios da série Aeroporto: Área Restrita do canal Discovery Brasil. Na série, são retratados, dentre outros assuntos, a forma de abordagem feita pela aduana no Aeroporto Internacional de São Paulo – Guarulhos (GRU) aos passageiros recém-chegados ao país.

7. Sites facilitam a aquisição no exterior

Você não precisa fazer uma viagem internacional para trazer produtos do exterior. Vários sites te ajudam nessa tarefa: Ali Express, Ebay, Amazon, Mercado Livre, etc.

Os correios, por sua vez, criaram o ambiente Minhas Importações, que simplifica o trâmite para você trazer legalmente encomendas do exterior, sem ter dor de cabeça.

“O cliente acessa a plataforma Minhas Importações e fica sabendo quais os requisitos exigidos pela Receita Federal e pelos órgãos responsáveis para liberação da sua encomenda internacional. Nesse ambiente ainda é possível pagar os tributos e os serviços referentes ao objeto vindo do exterior e saber quais os documentos complementares ao processo de desembaraço aduaneiro.  A plataforma também disponibiliza o status detalhado das suas encomendas e correspondências internacionais, incluindo as importações realizadas nos últimos seis meses.”

Portanto, há muitos motivos para você refletir se vale mesmo a pena usar as suas viagens ao exterior para fazer compras.

Shopping Center Paseo la Galeria, Assunção, Paraguai
Compras num Shopping Center em Assunção, Paraguai

Alguns episódios me fizeram repensar as compras

Nunca fui muambeiro, mas já cometi muitos erros durante as minhas viagens relacionados às compras. Também presenciei outras situações com outras pessoas que me levaram a repensar meus hábitos de consumo.

Episódio 1

Lembro-me da minha primeira viagem ao exterior em 1994. Um amigo que viajava comigo comprou várias fitas de videocassete de filmes estrangeiros não disponíveis no Brasil. Quando chegou ao Brasil, não conseguiu assistir nenhum filme, pois o padrão de TV usado na Europa (PAL-N ou PAL) era incompatível com o padrão usado no Brasil (PAL-M).

Episódio 2

Nas minhas primeiras viagens à Ásia, perdi muito tempo visitando shoppings de eletrônicos. Gastava horas percorrendo as lojinhas para achar o produto desejado a um preço razoável. Às vezes, nem encontrava. Ao final, economizava pouco e deixava de aproveitar muitas atrações.

Situação semelhante ocorreu com minha mãe e minhas tias que viajavam comigo a Bangkok. Ficaram quase um dia inteiro em poucas lojinhas do shopping center MBK para comprar quinquilharias, deixando de conhecer os monumentos muito mais interessantes da capital da Tailândia. Lojinhas tem em todo lugar!

Episódio 3

Em 2016, comprei uma centrífuga em Portugal. O preço estava bom, obtive um bom desconto e o aparelho é de excelente qualidade. Entretanto, desde então, usei-a duas ou três vezes, no máximo. Agora está na minha cozinha só ocupando espaço. Estou querendo me livrar dela de qualquer jeito.

Episódio 4

Há muitos anos, comprei um aparelho celular da Samsung na Ásia. Só que, ao configurar o aparelho, verifiquei que só havia duas línguas disponíveis: inglês e mandarim. Não havia a opção de língua portuguesa.

Outro caso semelhante ocorreu na China. Certa vez, comprei um tablet Asus com sistema Android. Só que, no Tablet, não havia a loja de aplicativos Google Play em razão das restrições da Internet na China. A versão do Android usada por lá é outra. Ao chegar ao Brasil, tive que reinstalar o sistema operacional para utilizar o aparelho.

Episódio 5

Acho bem vantajoso comprar vinhos no Chile. O preço do vinho chileno no Brasil costuma ser 2 vezes o preço por lá. Em 2017, um parente trouxe mais de 10 garrafas de vinho na mala. Só que, talvez por estarem mal acondicionados na bagagem despachada, 4 garrafas se quebraram. A economia obtida praticamente se perdeu e algumas roupas ainda ficaram manchadas de vinho.

Episódio 6

Em Portugal, compramos o delicioso Queijo da Serra da Estrela numa feira pública. Era para consumir no hotel. Só que acabamos esquecendo o queijo na mala e, chegando ao Brasil, a vigilância agropecuária detectou o queijo no Raio X. Como não se tratava de produto de marca, o queijo teve que ser destruído.

E hoje em dia, o que eu trago do exterior?

Todos esses episódios me fizeram repensar as compras nas viagens. Atualmente, sou muito mais controlado e procuro comprar, essencialmente, aquilo que não consigo encontrar no Brasil.

Mas, a própria filosofia da viagem é diferente: num primeiro plano, está sempre conhecer o destino turístico, seus habitantes, sua cultura, sua história e sua arquitetura. As compras são sempre secundárias.

Afinal, o que eu compro?

Em primeiro lugar, costumo comprar livros de história do lugar que estou visitando. Muitos destes materiais não estão disponíveis nas livrarias online e você ainda tem a oportunidade de folhear o livro e verificar se gostará ou não da leitura

Em segundo lugar, gosto de comprar vinhos estrangeiros, especialmente, os produzidos por vinícolas pequenas e sem distribuição no Brasil. Mesmo sendo um bom apreciador, trago apenas poucas garrafas. 

Por fim, compro coisas que vou utilizar durante a viagem e que esqueci de trazer do Brasil. Ou ainda, coisas que se estragaram durante as férias, por exemplo, roupas, tênis, chinelos, acessórios de eletrônicos, etc.

Compras na feira de artesanato em Mendoza, Argentina
Compras na feira de artesanato em Mendoza, Argentina

Dicas para fazer compras no exterior

Se, mesmo após tudo isso, você quiser fazer compras nas suas viagens mundo afora, recomendo o seguinte:

  • Compre somente aquilo que você necessita. Parece óbvio, né? Mas, quantas vezes não adquirimos coisas por impulso, ou seja, sem refletir se aquele produto seria ou não útil?
  • Compre apenas aquilo que você vai conseguir carregar na sua bagagem, sem precisar pagar excesso.
  • Compre aquilo que você não encontra no Brasil e que não pode ser comprado de forma online.
  • Avalie a diferença de preço no Brasil e no exterior. Pesquise antecipadamente os preços.
  • Conheça as regras da alfândega. Muitos viajantes acabam tendo seus bens retidos ou apreendidos pela Receita Federal por desconhecer as normas alfandegárias ou por acreditar que não seriam fiscalizados.
  • Deixe as compras, preferencialmente, para o último país que visitar. Assim, você evita ter que carregar os bens durante a viagem e, ainda, ter que se submeter a regras alfandegárias de diferentes países sem necessidade.
  • Não perca muito tempo de viagem com as compras. Saiba de antemão o que pretende comprar e procure horários que não atrapalhem seu roteiro turístico.
  • Compre produtos de qualidade, mas tenha em mente que produtos de boa qualidade são caros em qualquer lugar do mundo, salvo quando há promoções ou saldos. Lembre-se que o barato pode sair caro!
  • Não compre falsificações, ainda que de boa qualidade. A maioria dos países considera a contrafação um delito que leva ao perdimento do bem e, até mesmo, sanções penais.

Resumindo…

Obviamente, tudo isso que falei é uma opinião baseada na experiência pessoal. Respeito as opiniões em contrário, mas espero que você, pelo menos, busque repensar as suas compras no exterior. Mudar os hábitos de consumo, no Brasil ou no exterior, é o primeiro passo para viajar mais gastando menos.

Em síntese, as maiores lembranças que trago do exterior estão apenas na minha memória ou nos textos deste blog.

Foto de Capa: Kem Vichet/Pixabay