2024: um novo ano, um novo jeito de viajar

2023 passou voando, nem acredito. Fizemos muitas viagens interessantes. Percorremos Portugal, Peru, Argentina e Chile, além de vários destinos no Brasil, tais como Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Maranhão, Chapada dos Veadeiros e Pantanal. À primeira vista, foram muitas localidades, mas isso nem se compara ao número de lugares que visitávamos em tempos anteriores. Já estamos mudando o nosso jeito de viajar, e 2024 é um ano para consolidar essas mudanças.

Após conhecer mais de 70 países e ficar um pouco mais velho, a ideia, agora, é fazer viagens mais imersivas, sem pressa, com mais tempo e mais flexibilidade além de revisitar lugares sob novos ângulos e com novas experiências, sem agendas apertadas. Sabemos que essa meta nem sempre é factível, tendo em conta nossas obrigações cotidianas. Porém, a passagem de ano é a oportunidade de reconhecer os erros das viagens passadas e seguir por um outro caminho, mantendo a paixão por viajar e descobrir outras realidades.

A seguir, descrevo o meu novo jeito de viajar em 2024. Espero que as diretrizes abaixo te ajudem a refletir também sobre as suas viagens. Não existe jeito certo ou errado de viajar; entretanto, pequenas mudanças podem tornar sua experiência mais produtiva, econômica e confortável. Algumas coisas podem parecer óbvias, mas precisam ser lembradas. Confira!

1. Conhecer um único país

Hoje compreendo o quão importante é focar a viagem em um único país. Uma vantagem óbvia é que passamos apenas uma vez pela imigração e pela aduana, ou seja, enfrentamos filas uma única vez, e nos preocupamos com as regras de entrada/permanência de um único país. Se o país exige visto de turista, é apenas um que você precisará obter.

Essa decisão representa menos gastos de tempo e de dinheiro. E não me refiro apenas às passagens internacionais, que costumam ser mais caras. Viajar para vários países significa, por exemplo, várias operações de câmbio (exceto, obviamente, na zona do Euro) e com muitas moedas diferentes. Serão também vários chips de celular (SIM Cards) que você vai ter que comprar a cada fronteira (e hoje em dia não vivemos sem uma conexão de internet). E assim por diante!

De qualquer forma, o mais importante de conhecer um único país é a possibilidade de fazer uma imersão no destino, explorando a cultura, as festividades, a história e, para os mais ‘corajosos’, até a língua local. Não preciso dizer que a experiência de viagem será muito mais enriquecedora. Dedicando mais tempo a um país, você poderá até se sentir como um morador local e integrar-se à comunidade, conhecendo pessoas interessantes.

Um dos motivos que antes me levava a visitar vários países era uma espécie de “diversificação de risco”. Afinal, se não gostasse de um país, logo estaria em outro.

Hoje, minha visão é diferente. Afinal, aquela primeira impressão que temos de um destino pode mudar — e certamente muda — com o passar dos dias. Um clima desagradável, um mau atendimento e algumas experiências negativas contribuem para formar nossa percepção sobre o lugar. No dia seguinte, entretanto, tudo pode mudar.

2. Preferir Voos diretos

Via de regra, voos diretos são mais caros que voos com escalas ou conexões, especialmente nos voos internacionais.

No passado, influenciados pela ideia de “viajar mais, pagando menos”, costumávamos aceitar voar fazendo várias paradas antes de chegar ao aeroporto desejado.

É uma daquelas “economias porcas” que acho que todos nós já cometemos pelo menos uma vez na vida. Isso porque a economia nas passagens, por vezes, era muito pequena. Além disso, as passagens representam não mais que 20 ou 30% do custo total da viagem. Assim, a suposta economia, quando comparada com os gastos totais, representa um percentual ainda menor.

Por outro lado, há a perda de tempo e o cansaço oriundos do deslocamento, prejudicando a sua experiência final no destino, sem mencionar as despesas de alimentação (e outras) realizadas nos próprios aeroportos de conexão. Isso tudo sem falar nos vistos de conexão (exigidos por alguns países) e sobre a necessidade de passar pelos controles durante a conexão.

Dito isso, é importante distinguir as escalas/conexões necessárias das opcionais. Se você vai para a Ásia, por exemplo, não tem como fazer um voo direto a partir da América do Sul, pelo menos com as aeronaves atuais. Terá que fazer uma conexão necessária e talvez valha a pena fazer um “stopover” para tornar a sua jornada menos cansativa. Existem, ainda, os destinos que, na malha aérea atual, só podem ser alcançados com duas ou até três conexões necessárias. Também considero necessária a conexão quando os voos diretos estão absurdamente caros ou quando as vagas nesses voos não estão mais disponíveis.

De resto, se a diferença entre os preços do voo direto e o do voo com conexão não for grande, não tenho dúvidas de que optarei pelo voo direto.

3. Realizar menos troca de hospedagens

Outra medida que tenho adotado, seguindo a lógica anterior, é minimizar a troca de hospedagens. Procuro selecionar uma cidade-base para explorar a região e opto por tours de um dia para visitar os destinos próximos. Mudar de acomodação frequentemente não só consome tempo, mas também diminui o conforto. Quem nunca chegou ao hotel, exausto, antes do horário de check-in e teve que esperar? São raros os hotéis que oferecem “early check-in”. Além disso, a cada troca de hotel, surge a tarefa de arrumar e transportar a bagagem mais uma vez, o que representa mais um gasto de tempo e limita as opções de locomoção.

Essa estratégia pode não ser viável em todas as situações, mas é particularmente útil em determinadas circunstâncias: viagens com roteiros circulares, poucos dias disponíveis e destinos próximos (até 3 horas de carro) com atrações que podem ser exploradas em um único dia.

Em Portugal, por exemplo, é possível se hospedar em Lisboa por vários dias e realizar day trips para várias localidades (Sintra, Cascais, Óbidos, Setúbal, Fátima, Évora, etc). Ter acesso a bons meios de transporte certamente facilita essa decisão!

4. Fazer um 'City Tour' ou 'Free Walking Tour'

Sugiro, ao visitar uma cidade pela primeira vez, fazer um city tour, idealmente no primeiro dia. O city tour oferece uma visão geral dos principais atrativos da cidade, permitindo ajustar seu roteiro conforme necessário. Ter essa flexibilidade é importante, pois a atração que você tanto esperava pode não ser tão impressionante, enquanto outras, que você desconhecia, podem se revelar fascinantes. Além disso, o city tour proporciona uma compreensão espacial da cidade, ajudando a localizar os pontos de interesse.

Outra dica para enriquecer ainda mais sua experiência de viagem é participar de um Free Walking Tour. Esses passeios a pé cobrem os principais pontos de interesse e, embora sejam promovidos como gratuitos, espera-se uma gorjeta ao final, incentivando os guias a oferecerem o melhor de si. Essa é uma excelente oportunidade de aprender mais sobre o local de uma maneira interativa. Há também free walking tours temáticos, focados em gastronomia, história ou arte urbana, por exemplo, que podem proporcionar insights únicos sobre a cultura local.

5. Planejamento nem sempre sai como esperado

Planejar a viagem é crucial, e tenho enfatizado isso aqui repetidamente. No entanto, o planejamento nem sempre sai como esperado. Imprevistos surgem, erros são cometidos, e pode ser desafiador seguir um itinerário muito minucioso. É importante ter flexibilidade para se adaptar às variáveis do cotidiano. Às vezes, planejamos visitar três atrações em um dia, mas acabamos conhecendo apenas uma. O trânsito, atrações fechadas, greves, cansaço, ou simplesmente o desejo de passar mais tempo em um local fascinante são algumas das razões para fugir dos planos iniciais.

Com isso em mente, concentro-me no planejamento “macro” da viagem (datas de voos, destinos e hospedagens), pois perder um voo pode acarretar transtornos significativos: o custo de adquirir uma passagem de última hora pode ser exorbitante. Para o planejamento “micro” da viagem (atrações, pontos de interesse), tenho optado por deixar um dia livre na agenda para incluir o que não foi possível visitar nos dias anteriores. Outra sugestão é ter no roteiro atrações “extra”, que você visitará se tiver tempo e vontade. Isso é particularmente útil em cidades grandes, repletas de atrações.

Observe que, se estiver viajando de carro e tiver reservas de hotel que permitem cancelamento grátis, você terá muito mais flexibilidade para ajustes, mesmo nesses aspectos “macro” da viagem.

6. Não é preciso ver tudo

Ao planejar uma viagem, é comum listar os principais pontos de interesse e tentar visitar o máximo possível. Parece uma agenda corporativa a ser observada. Contudo, essa pressão para cumprir um itinerário extenso pode comprometer a qualidade da viagem, gerando estresse totalmente desnecessário. É provável que não consigamos visitar tudo o que planejamos.

Portanto, acredito que o ideal seja selecionar algumas atrações de maior interesse e estar aberto a ajustes no roteiro. Se algo ficar de fora, não há problema. É mais um pretexto para voltar!

7. Integrar-se com os locais

Integrar-se com os locais durante as viagens enriquece imensamente a experiência do viajante. Mais do que visitar pontos turísticos e registrar fotos, mergulhar na cultura, nos costumes e interagir com as pessoas da região permite uma imersão genuína e profunda.

Ao nos abrirmos para aprender com os moradores, descobrimos histórias que os guias turísticos não contam, provamos sabores únicos da culinária local e captamos nuances culturais que de outra forma nos escapariam. Essa troca enriquece nossa compreensão do mundo, cultivando um respeito mais profundo pelas diversas culturas.

Estabelecer conexões verdadeiras pode transformar uma simples jornada em uma coleção de momentos inesquecíveis. Descobrir um restaurante escondido, uma praia secreta ou participar de uma festa tradicional proporciona experiências marcantes, que superam as visitas aos locais mais conhecidos.

Contudo, isso pode ser desafiador, especialmente se você não conhece ninguém no destino ou não fala o idioma local. Por isso, participar de eventos, hospedar-se em albergues, participar de cursos ou tours compartilhados pode ajudar. Porém, muitas vezes, acabamos conhecendo mais viajantes do que locais.

Plataformas como Couchsurfing, que inicialmente visavam hospedar visitantes gratuitamente, revelaram-se excelentes meios de conectar pessoas de diferentes culturas. Outras opções incluem o Meetup e grupos locais em redes sociais.

O essencial é buscar a integração.

8. Realizar refeições na hospedagem

Nas viagens, nem sempre precisamos comer fora. Muitos restaurantes podem não oferecer uma experiência satisfatória a preços justos.

Em viagens mais longas, vale a pena, de vez em quando, comprar pratos prontos ou ingredientes para preparar uma refeição na própria acomodação, especialmente para o jantar.

Quem aprecia vinho, por exemplo, pode comprar uma garrafa de boa qualidade para consumir no quarto, o que acaba sendo bem mais econômico do que nos restaurantes.

Hospedar-se em um apartamento ou flat facilita a realização de refeições “em casa”, mas mesmo em hotéis é possível desfrutar dessa experiência. Pedir uma pizza ou outro prato por aplicativos de entrega é uma dica.

Lembro-me de uma vez, em Sorrento, Itália, onde compramos burrata, salada, petiscos e vinho, e tivemos uma experiência gastronômica memorável no hotel, algo que dificilmente se repetiria em um restaurante.

Às vezes, tudo o que queremos é relaxar e conversar com amigos em um ambiente tranquilo.

  • Dica: leve na bagagem (despachada) utensílios básicos como faca, garfo, colher e abridor de vinho.

9. Viajar com malas pequenas

Levar apenas o essencial facilita muito as viagens. Bagagens grandes complicam o deslocamento, dificultam o uso de transporte público e podem gerar custos adicionais com as companhias aéreas.

Por isso, estou optando por reduzir o que levo. Para viagens curtas, prefiro usar apenas uma mochila e evitar o despacho de bagagem. Em viagens mais longas, passei a escolher malas de tamanho médio ou pequeno.

Agora levo menos roupas, recorrendo a lavanderias quando necessário. Prefiro roupas simples, confortáveis e adequadas ao destino, pois não planejo participar de eventos formais quando estou de férias.

Continuo levando minha mochila com eletrônicos, mas, mesmo ela, está cada vez mais leve.

Emerson Cesar

Apaixonado por viagens e por fotografia. Começou a descobrir o mundo há 10 anos e já visitou 71 países. Gosta de caminhar a esmo pelas cidades mundo afora, observando as pessoas, as comidas, as construções e a arquitetura. É formado em Engenharia e Direito.

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