Com a recente abertura de fronteiras, muita gente deve estar pensando em viajar para o exterior em 2022. Após dois anos de pandemia, para muitos brasileiros, é imensa a vontade de conhecer novos países, descobrir novas culturas e novos destinos. Mas, será que já está na hora? Na minha opinião, não! Entendo que o cenário talvez nos permita viajar, mas apenas pelo Brasil.
Obviamente, viajar para fora ou não é uma decisão pessoal e deve levar em conta a situação de cada um. Para quem está há tempos planejando a tão sonhada viagem para a Europa ou para os Estados Unidos, o melhor é observar a situação da pandemia no destino e pesar o custo benefício. Mas, se você não conhece bem o Brasil, talvez seja o momento para descobri-lo; sempre com as devidas cautelas!
Neste artigo, apresento 4 motivos para, caso você deseje viajar, opte pelo Brasil em 2022, adiando as viagens internacionais para um momento mais oportuno.
1. Cenário Econômico
O cenário econômico, interno e externo, é um dos principais empecilhos para as viagens internacionais. O câmbio está extremamente desfavorável para os brasileiros que pretendem sair pelo mundo afora, pois encarece todos os bens e serviços que você consome no exterior: hospedagem, alimentação, transporte, compras, etc.
Observe que, mesmo com o arrefecimento da pandemia no final de 2021, o dólar permanece em patamares elevados. No início de 2020, antes da pandemia, o dólar estava sendo cotado na faixa dos R$ 4,20. Hoje, está cotado na faixa de R$ 5,70.
Mas, será que ao longo do ano essa cotação não vai baixar? É verdade que o câmbio é uma das variáveis econômicas mais difíceis de se estimar, mas há fortes argumentos no sentido de que o dólar deve manter-se nos níveis atuais (vide relatório focus) ou, no pior dos cenários, chegar a R$ 7,00 ou mais.
O Banco Central dos EUA (Federal Reserve) já indicou que irá reduzir os estímulos monetários e que poderá aumentar as taxas de juros. Isso acaba encarecendo a moeda americana e desvalorizando ainda mais o Real.
Dois mil e vinte e dois é ano de eleições no Brasil e, como tal, será um ano de grande volatilidade nos mercados. Historicamente, nossa moeda desvalorizou-se em vários anos eleitorais: 2002, 2014 e 2018.
Se não bastasse o problema do câmbio, há um aumento na inflação nos Estados Unidos (6% a.a.) e na Europa (4% a.a.). Ou seja, para os brasileiros, a viagem internacional ficará duplamente mais cara, pelo câmbio e pela inflação.
2. A pandemia ainda não acabou!
Com o avanço da vacinação em 2021, houve uma queda no número de casos e mortes em diversos países do globo, em especial, aqueles com grande cobertura vacinal. Em função disso, um grande número de países abriu as suas fronteiras aos turistas. Cada um deles adotou seus próprios requisitos de ingresso. A maior parte deles exige uma declaração de saúde e exames PCR negativo. Outros, exigem comprovante de vacinação e alguns poucos quarentena. As regras também variam conforme o local de partida do viajante.
O Brasil também impõe várias exigências para quem pretende ingressar no país, seja brasileiro ou estrangeiro: teste PCR negativo, declaração de saúde do viajante (DSV), comprovante de vacinação e, se for o caso, quarentena. Saiba mais, clique aqui.
Ocorre que, aquele cenário do segundo semestre, rapidamente se alterou. O advento da variante Ômicron, muito mais transmissível, tem preocupado governos e organizações internacionais. A propósito, em 3/1/2022, os Estados Unidos registraram mais de 1 milhão de casos diários (fonte: CNN Brasil).
Não se sabe, ainda, se essa variante é mais “virulenta”, ou seja, apta a causar doença com maior gravidade. Mesmo que não seja tão virulenta, com certeza, ela (e qualquer outra variante) pode gerar muitos transtornos à sua viagem.
Em primeiro lugar, os países podem alterar, a qualquer momento, as regras de ingresso; podem também impor lockdowns; determinar o fechamento de estabelecimentos ou outras restrições de circulação aos moradores e turistas. Alguns podem perguntar se essas restrições podem ocorrer mesmo com um número baixo de óbitos. Sim, podem. Um grande número de casos pode sobrecarregar o sistema de saúde.
Em segundo lugar, você pode sofrer com os cancelamentos de voos. Só em 2022, foram cancelados 4 mil voos nos EUA, pois tripulantes contaminados tiveram que ficar em quarentena.
E se você se contaminar, mesmo que esteja assintomático, não poderá retornar ao Brasil. Vai ter que ficar em quarentena às suas próprias expensas, num quarto de hotel, sem aproveitar o destino turístico e ainda terá que pagar pela remarcação das passagens aéreas, ou seja, prepare-se para gastar!
Um casal brasileiro que viajou às Ilhas Maldivas e foi contaminado no exterior terá que desembolsar R$ 22 mil com gastos adicionais (leia aqui). A propósito, os seguros de viagem não cobrem esses gastos adicionais, mas, tão somente, as despesas médicas e de hospitalização.
Em alguns países, o próprio exame de RT-PCR custa caro. Na Espanha, por exemplo, o preço gira em torno de 80 Euros (cerca de R$ 512). Se optar por fazer o teste de antígeno, válido apenas nas 24 horas antes do embarque, terá que pagar 30 Euros (cerca de R$ 200).
Ao viajar pelo Brasil, não há toda essa “burocracia” envolvida. Isso não significa que, no turismo doméstico, você não deva adotar as medidas de prudência cabíveis: vacinação completa (e terceira dose), manter distanciamento, evitar aglomerações e utilizar máscaras. No atual contexto, tentar fazer cruzeiros (onde naturalmente muita gente se aglomera) é pedir para ter problemas, mesmo que no litoral brasileiro.
3. O Brasil tem muitos encantos
Há muitos destinos e atrações sensacionais para se visitar no Brasil. Apesar de todos os problemas que o país enfrenta, você encontrará aqui natureza, cultura, história, gastronomia, arqueologia e lazer. Ademais, algumas atrações brasileiras não deixam nada a desejar em relação aos similares estrangeiros. E ainda são mais baratas!
Para que conhecer praias fora do país, se você tem melhores no Brasil? A propósito, defendi neste blog que não vale a pena ficar em um resort all inclusive no exterior se você tem boas opções no Brasil.
Mas, não são só praias. Temos os Lençóis Maranhenses, a Chapadas dos Veadeiros, dos Guimarães e a Chapada Diamantina; as falésias do litoral do nordeste e as águas termais de Caldas Novas, dentre outras atrações. Além disso, há diversos biomas para você conhecer: a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica.
Se você gosta de história, você pode conhecer Olinda (PE), Petrópolis (RJ) ou Ouro Preto (MG). Há, ainda, vários museus especializados no tema, tais como, o Museu do Ipiranga (Museu Paulista), o Memorial da Resistência de São Paulo, o Museu Imperial (Petrópolis), o Museu Histórico Nacional, no Rio de janeiro.
Não só visitar os museus, os monumentos e as cidades histórias, também é importante ler a respeito. É fato que os brasileiros conhecem pouco a sua história. Edmund Burke dizia que “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la”.
Se você gosta de vinhos, tem que conhecer Bento Gonçalves. Muitos dos vinhos nacionais, especialmente de vinícolas pequenas, não deixam nada a desejar em relação aos importados da mesma categoria. Além disso, a sua experiência sairá muito mais barata.
Enfim, são inúmeras as possibilidades de turismo no Brasil com opções para todos os gostos e bolsos. Seria impossível elencar todas num único post!
É verdade que alguns destinos domésticos pecam em relação à infraestrutura, mas há diversos outros com excelentes opções de hotéis, restaurantes, estradas, aeroportos, informações turísticas e agências de viagem.
4. Viagens domésticas são mais flexíveis
As viagens pelo Brasil são muito mais flexíveis que as internacionais.
A flexibilidade começa com o meio de transporte. É possível viajar de carro, de ônibus ou de avião. Se, por alguma eventualidade, você precisar alterar suas datas e trajetos, será mais fácil fazê-lo no Brasil que no exterior. As taxas de remarcação dos voos são menores e, em último caso, você pode pegar um ônibus.
A propósito, recentemente vi muitos relatos de passageiros que tiveram seus voos cancelados pela Itapemirim, na última hora, e acabaram pegando um ônibus para chegar ao seu destino.
Ademais, para viajar pelo Brasil, em regra, você não precisa alocar muito tempo. Pode utilizar um final de semana ou um feriado. Às vezes, os pontos turísticos estão na sua própria cidade e você nem se dá conta deles.
É verdade que não teremos muitos feriados prolongados em 2022 (Carnaval, Semana Santa) mas será possível emendar os feriados de 21 de abril e o 15 de novembro, que caem na quinta-feira e na terça-feira, respectivamente.
Em síntese…
Se você quer viajar para fora em 2022, tem que considerar os riscos e os custos envolvidos. Neste momento, em que explode o número de casos de Covid-19 pelo mundo, inclusive pelo Brasil (que sofre com um apagão de dados), viagens internacionais que não forem essenciais são desaconselhadas. Pode ser que a situação epidemiológica melhore ao longo do ano, mas você dificilmente saberá com antecedência.
Neste contexto, viajar pelo Brasil é muito mais tranquilo e conveniente. Talvez seja a hora de reconhecer os encantos do seu país e ajudar a recuperação do turismo nacional. De qualquer forma, vacine-se completamente, utilize máscara e nem pense em ficar em aglomerações (p. ex. carnaval de rua).