Compras na Argentina podem ficar mais baratas. Confira!

Puerto Madero, Buenos Aires, Argentina

Desde a década de 1950, os argentinos têm um frisson pelo dólar. Após passar por várias crises econômicas, a classe média da Argentina, desconfiada da moeda local, passou a usar o dólar como reserva de valor, protegendo-se contra a inflação e a desvalorização cambial, problemas crônicos do país. Segundo Ariel Palácios, formou-se toda uma cultura em torno da moeda americana, inclusive com um vocabulário próprio [livro ‘Os Argentinos’].

Em 2012, o Banco Central argentino proibiu a compra de dólares pelos argentinos para poupança, permitindo-a apenas para aqueles que fossem viajar para o exterior, mesmo assim, com aprovação da Afip, a receita federal argentina [fonte: G1]. Isso acabou levando ao ressurgimento do dólar paralelo, ou seja, os poupadores que não podiam comprar dólares para no mercado oficial, passaram a fazê-lo no mercado informal. E o dólar paralelo, muito procurado, passou a valer muito mais que o dólar oficial.

Durante o Governo Macri (2015-2019), pôs-se fim ao controle cambial [fonte: El Pais] e, por um curto período, o mercado paralelo do dólar encolheu. Mas, essa liberação acabou acarretando enorme desvalorização do peso argentino e, por consequência, aumento da inflação. O dólar continuava sendo refúgio dos argentinos e a fuga de capitais levou o governo a recorrer ao FMI.

Em 2020, sob contexto de recessão e escassez de divisas, o novo governo (Alberto Fernandez) instituiu outro rigoroso controle cambial, além de aumentar o imposto incidente nas operações cambiais feitas pelos argentinos. Como era de se esperar, o mercado paralelo ressurgiu com força.

Tipos de Câmbio na Argentina

Notas de 100 pesos argentinos, Argentina
Notas de 100 pesos argentinos

Ao longo do tempo, foram surgindo vários tipos de câmbio na Argentina, destinados a operações específicas, tais como:

  • o “dólar Catar”, para gastos com moeda estrangeira com cartão de crédito ou débito em passagens ou pacotes turísticos;
  • o “dólar coldplay”, para contratação de artistas no exterior;
  • o “dólar MEP” ou “dólar bolsa”, para operações com títulos soberanos no mercado de ações.
  • o “dólar blue”, que corresponde ao mercado paralelo, não oficial.

As compras com cartões de crédito ou débito internacional feitas na Argentina vinham sendo liquidadas pelo chamado “dólar mayorista” ou dólar interbancário, no Mercado Único de Cambio Livre (MULC), que movimenta o maior volume de operações cambiais na Argentina. É essa a cotação que você encontra, por exemplo, ao fazer a conversão de moedas pelo Google.

Esse dólar é bem desvantajoso para nós turistas, tornando a nossa viagem à Argentina bem mais onerosa. Atualmente, vale cerca de metade do dólar blue, o que indica que sua viagem ficaria duas vezes mais cara se você usasse apenas o cartão de crédito ou débito.

Em razão disso, o que muitos dos turistas fazem é utilizar dinheiro em espécie como meio de pagamento, seja o dólar americano, seja o peso argentino, desde que a conversão se dê com base no dólar blue.

Muitos brasileiros têm utilizado o Western Union para fazer a operação de câmbio, retirando o dinheiro em espécie nas lojas credenciadas.

Entretanto, uma novidade pode mudar nosso jeito de efetuar pagamentos na Argentina, um jeito mais conveniente e barato para os turistas.

Novas medidas adotadas pelo governo argentino

Casa Rosada, Buenos Aires, Argentina
Casa Rosada, Buenos Aires, Argentina

Na última semana, o governo argentino (dia 2/11/2022) anunciou a criação de um câmbio especial para gastos de turistas com cartões emitidos no exterior. Segundo o jornal Clarín, as emissoras (ou bandeiras) dos cartões de crédito (tarjeteras) estão autorizadas a liquidar os pagamentos feitos no país ao valor do Dólar MEP, que atualmente, gira em torno de $290 pesos.

Com essa medida, o governo argentino pretende captar 1,1 bilhões de dólares para fortalecer as reservas do Banco Central da República Argentina (BRCA) e diminuir o mercado informal de câmbio no país.

Desde a sexta-feira, dia 4/11/2022, as tarjeteras não possuem mais a obrigação de liquidar os pagamentos no Mercado Único Libre de Cambios (MULC), onde a cotação para o estrangeiro era bem mais desvantajosa, atualmente, em torno de $150 pesos.

A medida vale para cartões de crédito, de débito e para cartões pré-pagos (travel money) emitidos fora da Argentina.

Importante mencionar, entretanto, que as tarjeteras não estão obrigadas a liquidar o dólar no mercado financeiro, podendo continuar fazendo essa operação de câmbio no MULC.

Quais as vantagens dessa medida para o turista?

A medida ajuda o turista principalmente nas situações em que é necessário efetuar pagamentos na Argentina com cartões de crédito ou débito. Por vezes, o turista tem que pagar de forma antecipada hotéis, translados, aluguéis de veículos, passeios turísticos ou até alguns restaurantes finos.

No tocante aos hotéis e acomodações, observe que a isenção de IVA (imposto sobre valor agregado, semelhante ao nosso ISS e ICMS) para estrangeiros somente ocorre para pagamentos feitos com cartões emitidos no exterior.

Se você efetuar o pagamento do seu hotel em pesos ou em dólares, vai ter que pagar o IVA. Ocorre que, até agora, a diferença na cotação mais que compensava a incidência desse imposto. Em termos gerais, o preço da diária pago em espécie saia por 60% do valor pago no cartão de crédito.

Fila de Brasileiros para Retirar Dinheiro na Western Union, Buenos Aires, Argentina
Fila para Retirar Dinheiro na Western Union, Buenos Aires

Acima de tudo, a medida induz uma mudança de comportamento nos turistas, reduzindo a necessidade de utilização de dinheiro em espécie. Dessa forma:

  •  você não precisará carregar dinheiro em grande quantidade, o que é bom para a sua segurança (a despeito de as cidades argentinas serem bem mais seguras que as brasileiras),
  • você poderá utilizar o cartão de crédito nos aplicativos de transporte (Cabify),
  • você não precisará pegar as filas do Western Union para retirar seu dinheiro ou fazer o câmbio paralelo (dólar blue),
  • reduz-se o risco de você pegar alguma nota falsa de pesos argentinos.

Por ser uma medida nova, ainda vai levar um tempo a ser implementada. Ademais, como falamos acima, as tarjeteras não são obrigadas a fazer a liquidação pelo Dólar MEP.

Portanto, antes de sair gastando a torto e a direito com o seu cartão na Argentina, confira a cotação que está sendo utilizada para a conversão. Faça um pagamento em valor pequeno ou um saque e verifique no aplicativo do seu cartão de crédito como está sendo feita essa conversão.

Observe que muitos bancos emissores de cartões no Brasil dispõem de aplicativos que permitem que você verifique o valor pago logo após a compra, como, por exemplo, os cartões da Nubank e o Ourocard, do Banco do Brasil.

É bom lembrar, de qualquer forma, que os pagamentos feitos no exterior com cartões de crédito e débito emitidos no Brasil sofrem a incidência de IOF na alíquota de 6,38%.

Esperamos que essa medida saia do papel e logo comece a beneficiar os viajantes. Partiu Buenos Aires!

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