Pós-pandemia: os preços das passagens aéreas vão aumentar ou diminuir em 2022?

A pandemia afetou severamente as companhias aéreas no Brasil e no Exterior. A necessidade de isolamento social reduziu a demanda por viagens a lazer ou a negócios. O fechamento de fronteiras reduziu as viagens internacionais.

De início, as companhias baixaram agressivamente os preços das passagens para aumentar a ocupação, mas, logo em seguida, cortaram rotas e “groundearam” as aeronaves, buscando ajustar sua oferta de assentos à nova demanda. Além disso, adaptaram suas aeronaves para o transporte de cargas (fonte: Aeroin).

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, já podemos observar uma luz no fim do túnel. O número de casos e mortes está diminuindo. Em breve, poderemos voltar a viajar! A dúvida que fica é se, no pós-pandemia, os preços das passagens aéreas vão aumentar ou diminuir.

É uma questão difícil. São muitos fatores envolvidos. Por isso, limito-me a comentar sobre as tarifas domésticas no Brasil. 

Falamos aqui em preços médios, pois enquanto as tarifas para determinadas rotas podem reduzir, as de outras rotas podem aumentar. Fazer um prognóstico por rota seria muito mais complexo e incerto. Os preços também variam conforme a antecedência da compra.

O que se pode dizer com certeza é que as tarifas vão continuar a se mover segundo as forças da oferta e da demanda. Há fatores que podem levar tanto ao aumento quanto à diminuição dos preços das passagens.

Não tenho bola de cristal, mas creio que os preços das passagens aéreas em 2022 irão subir (ou a se manter elevados), pois os fatores de aumento tendem a prevalecer sobre os fatores de redução. Confira!


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Fatores que tendem a aumentar as tarifas aéreas

1. Real Desvalorizado

O câmbio é o principal fator que pode levar ao aumento das tarifas. É muito difícil fazer previsões sobre a taxa de câmbio, mas muitos analistas concordam que o dólar deverá se manter em patamar elevado em 2022.

A consultoria MB Associados prevê o dólar a R$ 5,60 no final de 2021 e R$ 5,80 no final de 2022. Fonte: Valor Investe

Já vivemos numa época de grande instabilidade política e, em ano eleitoral, a incerteza se acentua gerando enorme volatilidade no câmbio. Além disso, uma possível elevação nas taxas de juros dos Estados Unidos vai acarretar valorização da moeda americana.

Ora, como se sabe, uma parcela considerável dos custos das companhias aéreas é indexada ao dólar (53% em 2020, segundo a Abear). Se os custos permanecem elevados, não espere preços baixos.

2. Alta dos Combustíveis

Além dos aumentos dos custos operacionais vinculados ao dólar, as companhias aéreas estão sofrendo com a alta no preço dos combustíveis, como todos nós.

O preço do querosene de aviação aumentou 91,7% no segundo trimestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado (2T2020), segundo a Anac e a Abear (fonte: Valor Investe).

3. Não recuperação das viagens de negócios

Outro fator diz respeito à não recuperação das viagens de negócios, que representam mais de 50% das receitas de passagens. Diferentemente do que ocorre com os turistas, que pagam as próprias passagens, quem custeia as passagens dos viajantes business são as empresas. Essas passagens costumam ser mais caras, pois os viajantes não possuem a flexibilidade dos turistas e as passagens são compradas em cima da hora. Ou seja, são os viajantes business que acabam subsidiando as viagens dos turistas.

Ocorre que, com a pandemia, as empresas perceberam que muitas das viagens a trabalho poderiam ser substituídas por videoconferências, reduzindo os seus custos. Assim, não havendo o retorno das viagens de negócios aos níveis pré-pandemia, espera-se que a compensação se dê com um aumento nas passagens dos viajantes a lazer.

4. Possível consolidação do setor

Um quarto fator diz respeito à possível consolidação ou concentração no setor aéreo, com a fusão ou aquisição de empresas. Essa consolidação viria em razão das dificuldades financeiras por que passam as companhias. Por exemplo, a Gol recentemente adquiriu a MAP Linhas Aéreas, que opera nos estados do Amazonas e Pará.

A Azul, por sua vez, pretende fazer uma proposta para adquirir a Latam Brasil, que encontra-se em recuperação judicial (fonte: Folha). Essa aquisição, entretanto, é vista como improvável.

Com menor concorrência, espera-se uma aumento de preços das passagens em geral, ainda que eventualmente possa haver alguma “guerra de preços” para determinadas rotas ou ocasiões.

Por fim, convém lembrar que as companhias aéreas foram severamente afetadas pela pandemia e os outros fatores dela decorrentes. No pós-pandemia, elas vão buscar recuperar as perdas deste período, procurando, sempre que possível, aumentar as margens e os preços.

5. Demanda reprimida

Há uma demanda reprimida por viagens de lazer, especialmente, da classe média e alta. Tão logo os casos de Covid-19 reduzam a patamares aceitáveis, as pessoas irão voltar a viajar, gerando uma forte demanda de assentos.

Essa demanda será ainda maior nos períodos de férias e feriados nacionais. É a oportunidade que as companhias aguardam para elevar os preços.

Fatores que tendem a reduzir os preços das passagens

1. Condição financeira da população

Um dos fatores que pode dificultar a recuperação dos preços das passagens é a condição financeira de boa parte da população brasileira.

“A pandemia de covid-19 está deixando um rastro de destruição na economia global sem precedentes e, no Brasil, não é diferente, avisam especialistas. Uma certeza entre eles é que a recuperação da economia não será rápida e o empobrecimento da população, de forma geral, será inevitável. Com isso, os hábitos de consumo vão mudar, principalmente da classe média, maior alavanca do Produto Interno Bruto (PIB)” (fonte: Correio Brasiliense).

Apesar de haver uma demanda reprimida por viagens, muitos brasileiros perderam o emprego e/ou assumiram dívidas durante a pandemia. Ou seja, atualmente, não podem se dar ao luxo de viajar.

2. ITA – uma nova companhia aérea

Um segundo fator que pode levar à redução do valor das passagens é o advento da nova companhia aérea brasileira: a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA). De início, a companhia deverá operar em 14 aeroportos, incluindo os principais do país: Belo Horizonte (CNF), Guarulhos (GRU), Rio de Janeiro (GIG), Curitiba (CWB), Porto Alegre (POA) e Salvador (SSA). Até junho de 2022, a empresa pretende estender sua malha para 35 cidades. A promessa da ITA é oferecer preços acessíveis e conforto aos passageiros, além de bagagem grátis (fonte: CNN Brasil).

3. Recomposição da Malha Aérea

Com a recomposição da malha aérea, em 2022, com um aumento de oferta, há uma tendência de redução dos preços. Talvez essa seja a nossa principal esperança para viajar em 2022 pagando menos!

A Latam Brasil, por exemplo, está criando 33 novas rotas e passando a operar em 7 novos destinos (fonte: Aeroin). Por sua vez, a Azul anunciou 8 novas rotas domésticas e o voo regular mais longo pelo país, ligando Campinas (VCP) a Boa Vista, em Roraima (fonte: Aeroin).

A Gol vai operar novas rotas partindo de Guarulhos (SP) para Cabo Frio (RJ), São José do Rio Preto (SP) e Ribeirão Preto (SP), por meio de parceria com a Voepass (fonte: Istoé Dinheiro).

Concluindo

Em nossa opinião, os preços das passagens aéreas, em média, tendem a subir e a se manter mais elevados em 2022. De fato, o IBGE já constatou um aumento de 56,8% em 12 meses encerrados em setembro (fonte: IG Economia).

De qualquer forma, eventuais promoções de passagens, explícitas ou implícitas, devem continuar em 2022, especialmente se a compra for feita com antecedência para viajar em baixa temporada. No próximo ano, você também deve continuar encontrando boas oportunidades para comprar passagens com pontos ou milhas aéreas.

Eventual redução dos preços, entretanto, não deverá aplicar-se aos serviços adicionais, tais como, bagagens despachadas e marcação de assentos, que constituem uma importante fonte de receita para as companhias aéreas.

Nesse cenário, o que você deve fazer é planejar a viagem com antecedência, viajar em baixa temporada e comprar imediatamente as passagens quando identificar uma boa promoção. Em verdade, é só usar a “receita” tradicional para comprar passagens aéreas baratas.